Quem somos
Semear Corações para brotar Guardiões - Somos da Terra - Jornada 2022
"Antes da Coroa chegar, já existia a Pindorama de Cocar. Quando a Capitania chegou nós nativos, já estávamos aqui". Cacique Pajé Pawana Crody
Apresentação
Os Kariri-Xocó resistem há mais de 500 anos às invasões de seu território, no Baixo São Francisco- Alagoas, tendo preservado suas tradições mesmo com escassez de peixes, assoreamento do sagrado rio Opará (em nossa sociedade conhecido como São Francisco) e subtraída sua língua. Resistem e guardam aproximadamente 200 hectares de Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro. A nação Kariri-Xocó se destaca na manutenção de sua cultura tradicional. Musicalidade, costumes e organização social foram preservados, assim como sua intensa espiritualidade.
O tronco linguístico é o Macro-Jê e são a lida com o barro e o trabalho das Louceiras, na produção de potes e utensílios que se destacam nos fazeres manuais.
Nesse contexto nasceu, há 20 anos, o grupo Sabuká Kariri-Xocó. Grupo que tem arraigada a força da tradição e a missão de intercambiar através de seu canto forte, cultura e espiritualidade, realizando anualmente uma grande Jornada
fotos de Rafael Valverde - Jornada 2018 - Estado São Paulo
Assim como um rio que cresce ao encontrar o mar, a ciência dos povos originários se fortalece no encontro com todos os povos, de todas as cores. Por isso, anualmente o grupo Sabuká, deixa a Aldeia Kariri-Xocó em Porto Real do Colégio e corre mundo, compartilhando as iniciativas e práticas de Regeneração do corpo território indigena Kariri-Xocó, pensamentos, palavras e coração.
Através das danças e cantos do Toré (manifestação cultural milenar, tradicional dos povos indígenas nordestinos, onde se apresentam as forças ancestrais e canaliza-se a memória viva dos antepassados) e do Rojão, nas palavras do Mestre de Canto, Pajé e Cacique Pawana - “Podemos receber de nossos ancestrais, de nossa mãe Terra, nossa Dé Rada, as informações de como ela gosta de ser guardada, enquanto realizamos esse trabalho, nossa criança interior desperta para aprender.” As danças no Toré simbolizam a caminhada pela vida, sempre puxada pela Maracá - nossa mestra dos cantos - que representa o planeta Terra.
Elementos da natureza como pássaros, folhas, terra, fogo e o vento trazem o conhecimento necessário para o crescimento e amadurecimento, integrando em nosso corpo, espaço e tempo as noções que são como raízes na educação Kariri-Xocó.
Já os Rojões são cantos de trabalho que impulsionam e organizam os mutirões nas roças, casas de farinha ou tapagem das casas.
É preciso cantar e dançar para mostrar o quanto um povo (re)existe, resiste. Resiste à opressão do preconceito, da dificuldade de se inserir no ambiente de trabalho, enfrentando conflitos no sistema educacional e sofrendo pressão para que abram mão de suas atividades rituais.
São essas essas mensagens que os guardiões de Dé Rada (nossa Mãe Terra) guerreiros Kariri-Xocó comunicam em suas vivências, nos encontros que constroem, momentos que vivenciam em cada proposta da Jornada.
É missão do grupo Sabuká Kariri-Xocó, nesse ano de 2022, tocar e despertar corações, alimentar mentes e fortalecer corpos territórios, para um florescer de união, pensamentos críticos que componham mudanças regenerativas em nossa sociedade. Acreditando que o sistema vence, quando nos separa, se aproveitando da falta de conhecimento, da intimidade, do estar junto que nos fortalece. A meta é provocar o pensamento colonial, o pensamento crítico e fortalecer a identidade de nosso povo brasileiro.
Através de palavras, cantos e fazeres, o grupo Sabuká Kariri-Xocó entrega à sociedade chaves importantes sobre inspiração, elementos da natureza e raízes de nossa identidade cultural.
São propostas híbridas, construídas no fazer presencial e digital. Propomos encontros de 1:30 a 3h onde Cacique Pajé Pawana Crody e demais integrantes do grupo, compartilham seus saberes e instigam reflexões em estudantes, formadores, gestores e agentes culturais:
Provocações que já brotaram na organização desse material:
- Qual a validade dos seus métodos e modo de estar no mundo? De um mundo que está indo para o abismo do ponto de vista climático, político etc. Um mundo de ambições e competições, em que não temos mais liderança política, onde nações foram capturadas pelo mercado, as corporações mandam, a maior parte das universidades também são subordinadas — elas desenvolvem pesquisas e projetos para atender dinâmicas de mercado e interesses de corporações. A ideia de soberania e autonomia dos povos foi banida e a maior parte das pessoas, inclusive, muitos intelectuais que continuam na cena produzindo, convivem com isso como peixe n’água. Um lugar imerso na colonialidade.
- Uma flecha reflexiva para formadores e educadores: a relação entre a colonialidade do saber e do ser, sustentando que é a partir da centralidade do conhecimento na modernidade que se pode produzir uma desqualificação epistêmica do outro. Tal desqualificação representa uma tentativa de negação ontológica. A colonialidade do ser.
- Essa ordem social-política-econômica é tida como dada e se perpetua através de lógicas que nos parecem normais permitindo que os padrões capitalistas neoliberais lancem as bases de uma civilização que rompe com as diferenças e uniformiza os modos de ser e habitar o planeta. Nela são normalizados fenômenos absurdos como a exploração de pessoas e da natureza e a destruição dos conhecimentos, práticas e territórios de outras culturas etc. Para abrir fissuras nesse modelo social, Pawana convida a pensar a partir da pluralidade, e a conectar com o conhecimento dos povos originários, cujas formas de participar da vida se afastam das lógicas de morte que ocupam nosso imaginário colonizado.
A de(s)colonialidade é — e continuará a ser — uma ação de fazer-pensar-sentir-analisar-teorizar e lutar necessária, contínua e urgente.
Por isso, na presença sobrevivente dos Kariri-Xocó somos provocados, sobre os cosmos do descolonial: como rachar ou fissurar a colonialidade e como agir a partir de suas fissuras, lembrando da necessária simultaneidade do trabalho dentro, fora e sempre contra o sistema que corrompe e separa.
“Nós indígenas também estamos discutindo a contracolonização. Para nós, indígenas, essa é a pauta: Contra colonizar, enxergar a ambição e a competição como problemas graves da humanidade que não podem mais ser alimentados. No dia em que as universidades aprenderem o que elas não sabem, no dia em que as universidades toparem aprender as línguas indígenas – em vez de ensinar –, no dia em que as universidades toparem aprender a arquitetura indígena e toparem aprender para que servem as plantas da Caatinga, no dia em que eles se dispuserem a aprender conosco como aprendemos um dia com eles, aí teremos uma confluência, um verdadeiro encontro. Uma confluência entre os saberes. Um processo de equilíbrio entre as civilizações diversas desse lugar. Uma contracolonização.” Kajaby Tinga - Liderança Grupo Sabuká e fundador do Centro de Cultura Sabuká Kariri-Xocó
Dito de outra forma, a colonialidade trata das formas como o poder, o conhecimento, a organização do mundo e a conceitualização das pessoas no mundo são concebidos em um arranjo estrutural que persiste mesmo após o fim dos colonialismos de estado. É sobre as maneiras subalternizantes como são consideradas as línguas e saberes, as noções de eu e comunidade, as corporalidades e territorialidades, as noções de saúde e doença, as oportunidades de trabalho etc., enfim, tudo que diz respeito ao convívio e relação entre sociedades distintas pautado na hegemonia reivindicada de uma (ocidental euro-americana) sobre as outras. É a partir dessa consciência, amadurecida pelas perdas da Covid-19, que retomamos as propostas para 2022.
Toré e apresentações:
O nativo Sertanejo, Nordestino, Indigena Kariri-Xocó, é um povo de uma nação que luta para sobreviver e vive permeado pela Caatinga e suas qualidades, as medicinas tradicionais e suas maneiras de existir, guardam importantes e fundamentais chaves de amadurecimento para todo Brasil. Vamos fortalecer! Bocuiá!